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Sobre o Barão

Barão de itararé, nome verdadeiro Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, também conhecido como Apporelly é considerado um dos criadores do jornalismo alternativo no país e pioneiro no humorismo político brasileiro. Nasceu em 29 de janeiro de 1895 no Rio Grande do Sul, mas foi registrado como nascido no Uruguai e seu titulo de eleitor apresentava naturalidade gaúcha.

A mãe dele, dona Maria Amélia, suicidou-se com um tiro de revolver na cabeça, aos 18 anos. Apparício estava com 18 meses. Esta seria a primeira das muitas tragédias com mulheres importantes em sua vida que enfrentaria.

Em 1906 seu pai o enviou ao internato no Colégio Nossa Senhora da Conceição, em São Leopoldo (RS), onde fez seu primeiro jornal manuscrito intitulado “Capim Seco”, com tiragem de um exemplar, satirizando a disciplina dos padres jesuítas. Deixou o colégio em 1911, após terminar o quinto ano do ginasial. Anos depois, por pressão familiar, se matriculou na Faculdade de Medicina de Porto Alegre – RS.

Em 1918, durante suas férias, sofreu um derrame quando andava a cavalo na fazenda do tio. Devido a isso, abandonou o curso de medicina no quarto ano e iniciou viagens pelo interior do estado fazendo conferencias sobre diversos assuntos. É quando passou a se dedicar exclusivamente ao jornalismo publicando sonetos e artigos em jornais e revistas, como “Kodak”, "A Máscara" e "Maneca". Nessa mesma época funda “A Noite e a Reação”, “A Tradição” e “O Chico”, seu primeiro jornal de humor. Casou-se pela primeira vez com Alzira Alves, que anos mais tarde morreria de câncer, e com quem tem três filhos: Ady, Ary e Arly.

Em 1925 começa a trabalhar no jornal “O Globo”  como articulista, tendo como padrinho Irineu Marinho, diretor e proprietário do matutino. Com a morte de Irineu, naquele mesmo ano, Apparício sai do jornal e, a convite de Mário Rodrigues (pai de Nelson Rodrigues), se torna colaborador do jornal “A Manhã”, onde, na primeira página, escreve sonetos de humor que geralmente tinham algum político da época como tema. Sua coluna faz sucesso e, em 1926, começou a escrever a coluna “A Manhã tem mais...”, também na primeira página.

 

Em 13 de maio de 1926, Apparício abandona seu emprego e funda seu próprio jornal intitulado “A Manha”, com o pseudônimo de Apporelly. Esse novo jornal da Capital Federal tinha estilo de parodia e seguia a mesma tipologia do “A Manhã”.

O semanário “A Manha” logo virou independente e anos depois viria a se tornar o maior e mais popular jornal humorístico do Brasil; ele também serviu de inspiração para jornalistas e humoristas criarem o jornal “O Pasquim”, com os mesmos propósitos de humor critico quarenta anos mais tarde.

Durante a revolução de 1930, quando Getúlio Vargas partiu de trem rumo à capital federal, foi vastamente divulgado pela imprensa que haveria uma batalha sangrenta em Itararé, cidade que fica na divisa de São Paulo com o Paraná, essa batalha iria acontecer entre as tropas fiéis a Washington Luís e as da Aliança Liberal. Porém, antes que houvesse a batalha “mais sangrenta da América do Sul”, acordos foram firmados e não houve nenhum conflito.

Apporelly não ficou de fora desta e, em outubro de 1930, se autodeclarou Duque nas páginas d’ “A Manha”: “O Brasil é muito grande para tão poucos duques. Nós temos o quê por aqui? O Duque Amorim, que é o duque dançarino, que dança muito bem, mas não briga e o Duque de Caxias que briga muito bem, mas não dança. E agora eu, que brigo e danço conforme a música.”

Semanas depois, como prova de modéstia, ele se rebaixa a Barrão de Itararé, como homenagem à batalha que não aconteceu.

No dia 02 de setembro de 1932 é preso pela 4ª delegacia auxiliar, a responsável pela ordem política e social, acusado de “delirante atividade revolucionária” pelas paginas d’ “A Manha”.

Em outubro de 1934 foi lançado o “Jornal do Povo”, que publicava a historia de João Cândido, um dos marinheiros da revolta de 1910. Contando com a parceria de Aníbal Machado, Pedro Mota Lima e Osvaldo Costa, o jornal durou apenas dez dias e, devido a ele, o Barão foi sequestrado e espancado por oficiais da Marinha que nunca foram identificados. Depois do atentado, o Barão volta à redação e coloca na porta a placa: “Entre sem bater”.

 

 

"Itararé topa qualquer parada

 

Não tendo podido, pela dialética kantista da “razão pura”, convercer um banqueiro desta praça a lhe fazer um emprestimo a longo praso, rápido como o pensamento, o nosso querido diretor tira o casaco e entra em “clinch” imediatamente com o repulsivo argentario. A cena passa-se no subterraneo do proprio estabelecimento de crédito, com a caixa forte á vista, o que empresta maior vigor e sensação á luta. Antes de terminar o primeiro “round”, o banqueiro, sofrendo forte pressão na região do cólon transverso, pediu louça, declarando, em falsête, que estava disposto a entrar em qualquer acôrdo, terminando a luta, afinal, com honra para ambos os lados, como convem, aliás, acabar todos os embates entre cavalheiros."

Fonte: Almanhaque para 1949 ou 'Almanaque d'A Manha'. Edição fac-similar, 1991, p. 15.

"Negocios da China

 

A China multi-milenar e sonhadora de Confucio, que se esconde por traz da Grande Muralha, encoberta por uma cortina de opio, continua a intrigar os atilados observadores impregnados de whisky do mundo ocidental, incapazes de compreender a sua filosofia e seus pagodes. Agóra mesmo, esteve entre nós, em missão reservada, o misterioso poeta nacionalista Shek-Sen-Fundos, que veio propôr ao Barão de Itararé, em nome de Chian-Kai-Shek, chefe do governo de Chim-Frim, o elevado cargo de encarregado dos Negocios da China para toda a America do Sul e Caraibas. Itararé, que é um diplomata de “carrière”, recudou, delicadamente, o oferecimento e parece que acabou vendendo ao poeta, dinheiro á vista, um jacá de marrecos de Pekin, criados a leite de pato, em seu bucolico sitio de Bang-hú."

Fonte: Almanhaque para 1949 ou 'Almanaque d'A Manha'. Edição fac-similar, 1991, p. 14.

É Preso novamente em 09 de dezembro de 1935, por ser militante e um dos fundadores da Aliança Nacional Libertadora, associada ao Partido Comunista Brasileiro, até então clandestina. Sua segunda mulher, Dona Zoraide, falece nesse ano devido à leucemia. Solto em 21 de dezembro de 1936, reabre “A Manha”, que só funciona durante um ano, sob severa censura do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).

Nessa época já apresentava sua volumosa barba que cultivaria por boa parte da vida. Casa-se pela terceira vez com D. Jurancy, com quem tem mais um filho, Amy Torelly. Em janeiro de 1938 o Barão retorna ao “Diário De Notícias” do Rio De Janeiro, e à coluna “A Manhã tem mais...”, onde fica por quase seis anos. Entre 1937 e 1945, quando Getúlio ascendeu ao poder, foi preso diversas vezes até o fim do Estado Novo.

Sua terceira esposa falece em 1940 ao dar à luz, junto a seu filho. O Barão, então, se muda para uma chácara em Bangu, no Rio, lá instalando um laboratório onde desenvolve pesquisas sobre vacina contra a febre aftosa. Sua filha Ady morre em 1943, vítima de complicações pós-operatórias provocadas pela extração do apêndice.

Em 1944, o Barão é homenageado em um jantar na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), por amigos e jornalistas pelos seus 25 anos de jornalismo. No ano seguinte, encabeça um abaixo-assinado por liberdades democráticas. Também em 1945 ressurge “A Manha” com enorme sucesso, superando o que havia feito nas décadas de 20 e 30.

Em 1947 se candidatou e foi eleito vereador do Distrito Federal, com o lema “Mais leite! Mais água! Mas menos água no leite!”, porém, em janeiro de 1948, seus vereadores foram cassados e o Barão perdeu seu mandato. "Um dia é da caça... os outros da cassação".

 

Devido a problemas financeiros, "A Manha" deixa de circular, em 1948.

Em 1949, o Barão associa-se a Guevara e lança o primeiro "Almanhaque" ou "Almanaque d’A Manha", paródia dos almanaques tradicionais, em São Paulo. Com o sucesso do lançamento, o Barão se anima e, em 1950 "A Manha" volta a circular até setembro de 1952, quando o jornal termina definitivamente.

Em 1955 lança dois "Almanhaques", um para o primeiro semestre e o outro para segundo. Já velho e cansado, fixa-se novamente no Rio e casa-se, pela quarta e última vez com Aida Costa, uma mineira bem mais jovem que ele que, em 1965, cometeu suicídio.

Já em 1963, a convite do governo de Pequim, o Barão viaja pela China, com passagem por Praga e Moscou. Nos anos seguintes (1964 – 1970), se dedica a seus "horóscopos biônicos" e "quadrados mágicos". Passa a maior parte do tempo estudando e vive só, em um pequeno apartamento em Laranjeiras, bairro do Rio de Janeiro.

No dia 27 de novembro de 1971, Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly falece enquanto dormia aos 76 anos de idade, em seu apartamento no bairro carioca de Laranjeiras.

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